Boas ppl.
Como ficou prometido seguem-se mais um episódio de Seco @ الجزائر, desta feita e de acordo com o desejo daquela Galeciana a quem agora chamam Mia, mas que quando chamavam Mariana desafiava toda a gente para uma tequilha, com o tópico de desenvolvimento: Direitos das Mulheres.
A versão que vos transcrevo é pessoal e condicionada pelo meio em que estou inserido, assim como pelas vivências que até hoje experienciei. Espero não passar nenhuma ideia errada nem ferir susceptibilidades, mas são as impressões com que fico, e se querem outro tipo de informação, procurem-na noutro lado. Realço que as pessoas com quem contacto diariamente têm, quase todas, educação superior e que estou num dos países muçulmanos mais próximos do ocidente e na sua capital (sempre mais exposta e influenciada pelos costumes e culturas externas). Sendo assim e sem mais rodeios, respondendo o mais directamente possível à pergunta da Mia: “São preconceitos ocidentais da nossa parte ou confirmas que por aí as coisas neste aspecto são de facto más?”, eu confirmo.
Para começar, a ideia com que fico, é que as mulheres muçulmanas são propriedade de alguém, por norma do pai ou do marido. A realidade é que elas vivem uma repressão terrível, uma cultura de medo que nem mesmo os EUA conseguem bater! Uma mulher tem de se manter pura para escapar ao inferno. A infidelidade é impensável, e sexo apenas após o casamento com única finalidade de procriação. Não podem beber álcool ou comer carne de porco (mas os homens também não), não podem fumar, não podem frequentar cafés e devem evitar ser vistas em público… Enfim uma data de regras que me escapa a totalidade, mas pelas que me são presentes já podem ver o filme! Na verdade uma mulher com cerca de 16 anos já está prometida a alguém, por norma através de um negócio entre o pai e o noivo e se aos 18 ainda estiver solteira, já se pode considerar uma impura para quem a salvação eterna está de veras comprometida. Não têm pertences e toda a sua liberdade é ditada pelo seu “proprietário” ou família.
No entanto, e tal como referi, não estou propriamente numa aldeia remota do interior da Argélia, onde todos estes princípios são literais. A realidade que me rodeia (pelos motivos que supramencionados) é um pouco diferente. Até hoje, e decorridas quatro semanas devo ter visto apenas umas duas ou três dezenas de mulheres de burca (o maior indício de extremismo) em que nenhuma parte do corpo deve estar visível, usando mesmo luvas e “viseiras” de renda para que tal seja possível. Em maior quantidade mas não disseminado e muito restrito a algumas localizações encontrei mulheres sem qualquer restrição relativamente ao vestuário que envergam. Resta a maioria, que se divide entre o uso do Xador, uma veste que cobre todo o corpo com excepção da cara e o hijab que deve cobrir o cabelo e pescoço (podem ver um exemplar na última foto das minhas tristes figuras que postei na semana passada). Ainda relativo à vestimenta, refiro ainda a existência de um pano deve tapar a cara revelando apenas os olhos, de seu nome niqab.
Tanta tradição e costumes advêm, como devem imaginar da religião Islã, que tem bastantes mais peculiaridades como a recitação e aceitação da própria crença (Chahada ou Shahada); a oração cinco vezes ao longo do dia (Salá,Salat ou Salah); o pagar esmola (Zakat ou Zakah); o jejum no Ramadão (Saum ou Siyam) e a famosa peregrinação a Meca (Haj), mas vejam mais pormenores aqui (e onde mais encontrarem) que é bem interessante. E prontos, de maneiras que tenho de observar a principal interlocutora no banco, ao fim do dia (após o resto do povo sair) a cravar um cigarro aos meus colegas fumadores e fuma-lo às escondidas… (faz lembrar o que fazíamos no liceu com o professor Manuel Vieira). Também quando estiveram cá umas consultoras de outra empresa, tínhamos de escolher outros sítios onde ir e chegamos mesmo a abandonar um restaurante, por uns locais estarem a olhar para elas com cara de poucos amigos!
Claro que as coisas já começam a mudar um pouco, e cada vez mais há pessoas a abandonar as práticas extremistas que mais incomodam. Mas ainda há um grande percurso para percorrerem é que apesar de parecer muito mau ao olhos ocidentais, depois de se entranhar até se compreende e já na semana que aí estive, dei comigo a sentir falta de alguns destes costumes… :)
Bj*es & braços.