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segunda-feira, maio 17, 2010

Seco@Argel.dz - O Regresso Parte I

Boas ppl.
Como ficou prometido seguem-se mais um episódio de Seco @ الجزائر, desta feita e de acordo com o desejo daquela Galeciana a quem agora chamam Mia, mas que quando chamavam Mariana desafiava toda a gente para uma tequilha, com o tópico de desenvolvimento: Direitos das Mulheres.
A versão que vos transcrevo é pessoal e condicionada pelo meio em que estou inserido, assim como pelas vivências que até hoje experienciei. Espero não passar nenhuma ideia errada nem ferir susceptibilidades, mas são as impressões com que fico, e se querem outro tipo de informação, procurem-na noutro lado. Realço que as pessoas com quem contacto diariamente têm, quase todas, educação superior e que estou num dos países muçulmanos mais próximos do ocidente e na sua capital (sempre mais exposta e influenciada pelos costumes e culturas externas). Sendo assim e sem mais rodeios, respondendo o mais directamente possível à pergunta da Mia: “São preconceitos ocidentais da nossa parte ou confirmas que por aí as coisas neste aspecto são de facto más?”, eu confirmo.
Para começar, a ideia com que fico, é que as mulheres muçulmanas são propriedade de alguém, por norma do pai ou do marido. A realidade é que elas vivem uma repressão terrível, uma cultura de medo que nem mesmo os EUA conseguem bater! Uma mulher tem de se manter pura para escapar ao inferno. A infidelidade é impensável, e sexo apenas após o casamento com única finalidade de procriação. Não podem beber álcool ou comer carne de porco (mas os homens também não), não podem fumar, não podem frequentar cafés e devem evitar ser vistas em público… Enfim uma data de regras que me escapa a totalidade, mas pelas que me são presentes já podem ver o filme! Na verdade uma mulher com cerca de 16 anos já está prometida a alguém, por norma através de um negócio entre o pai e o noivo e se aos 18 ainda estiver solteira, já se pode considerar uma impura para quem a salvação eterna está de veras comprometida. Não têm pertences e toda a sua liberdade é ditada pelo seu “proprietário” ou família.
No entanto, e tal como referi, não estou propriamente numa aldeia remota do interior da Argélia, onde todos estes princípios são literais. A realidade que me rodeia (pelos motivos que supramencionados) é um pouco diferente. Até hoje, e decorridas quatro semanas devo ter visto apenas umas duas ou três dezenas de mulheres de burca (o maior indício de extremismo) em que nenhuma parte do corpo deve estar visível, usando mesmo luvas e “viseiras” de renda para que tal seja possível. Em maior quantidade mas não disseminado e muito restrito a algumas localizações encontrei mulheres sem qualquer restrição relativamente ao vestuário que envergam. Resta a maioria, que se divide entre o uso do Xador, uma veste que cobre todo o corpo com excepção da cara e o hijab que deve cobrir o cabelo e pescoço (podem ver um exemplar na última foto das minhas tristes figuras que postei na semana passada). Ainda relativo à vestimenta, refiro ainda a existência de um pano deve tapar a cara revelando apenas os olhos, de seu nome niqab.
Tanta tradição e costumes advêm, como devem imaginar da religião Islã, que tem bastantes mais peculiaridades como a recitação e aceitação da própria crença (Chahada ou Shahada); a oração cinco vezes ao longo do dia (Salá,Salat ou Salah); o pagar esmola (Zakat ou Zakah); o jejum no Ramadão (Saum ou Siyam) e a famosa peregrinação a Meca (Haj), mas vejam mais pormenores aqui (e onde mais encontrarem) que é bem interessante.
E prontos, de maneiras que tenho de observar a principal interlocutora no banco, ao fim do dia (após o resto do povo sair) a cravar um cigarro aos meus colegas fumadores e fuma-lo às escondidas… (faz lembrar o que fazíamos no liceu com o professor Manuel Vieira). Também quando estiveram cá umas consultoras de outra empresa, tínhamos de escolher outros sítios onde ir e chegamos mesmo a abandonar um restaurante, por uns locais estarem a olhar para elas com cara de poucos amigos!
Claro que as coisas já começam a mudar um pouco, e cada vez mais há pessoas a abandonar as práticas extremistas que mais incomodam. Mas ainda há um grande percurso para percorrerem é que apesar de parecer muito mau ao olhos ocidentais, depois de se entranhar até se compreende e já na semana que aí estive, dei comigo a sentir falta de alguns destes costumes… :)
Bj*es & braços.

7 Comments:

Blogger Nunes said...

Este comentário foi removido pelo autor.

5/18/2010 12:02 da tarde  
Blogger Nunes said...

sentiste falta de que? de andar de burka? disfarçado de mulher sem que ninguem desse por isso? nao deixes esse tema em aberto, porque pode suscitar uma variedade de ideias....
especifica!
Gostei muito do tema e da exposiçao!
Nao tenho qualquer opiniao formada, pois é para mim um tema muito abstracto, nao sei se é bom ou mau para a sociedade, se é o correcto ou o errado... Estou habituado á sociedade que temos e sinceramente as coisas nesta sociedade nao estao a ir pelo melhor caminho... de facto tenho um exemplo próximo, fresco, de ontem. "Direitos de igualdade"...

Há um ano atras a minha empresa decidiu despedir (crise) o chefe geral do meu departamento. Para o seu cargo escolheu um "subordinado" com 13 anos de casa.
Este subordinado concorria á promoçao directamente com a minha chefe de equipa aqui de barcelona, que tem um par de anos mais de casa. Ela estava de baixa de maternidade, aliás, ela veio de uma baixa, esteve 8 meses a trabalhar e foi para outra... Logo nao a ascenderam...
(é sexismo, dizem uns...)

Pois bem, há um par de meses este novo chefe, caiu a fazer ski e partiu a clavicula, está melhor, volta dia 1 de junho da baixa... ah, mas nao volta, foi despedido... a minha empresa funde-se com outra do grupo e por isso formaçao e elearning passam a ser Formaçao. A chefe de formaçao passa a ser chefe geral de Formaçao, despedem o chefe actual e ascendem o subordinado a chefe de madrid...

Sabem porque nao despedem a minha chefe? porque há uma lei que nao permite, porque ela tem um filho menor de 9 anos... alias tem 2...

é justo?

e se acrescentar que o que foi despedido também tem filhos menores?

continua a ser justo?

e se disser que o que foi despedido tem formaçao em gestao informatica e a minha chefe é uma psicologa no desemprego que entrou aqui com cunha, continua a ser justo?

Pois é eu já nao sei o que é justo ou injusto nesta guerra de sexos... Mas proponho que todas sejam travadas na horizontal pelas partes implicadas...

já dizia lennon: "all we need is love"

ps: fds, doi-me os dedos...

5/18/2010 12:08 da tarde  
Blogger mia said...

Que querido, lembraste-te da minha pergunta! Tive muita pena de não ter estado contigo, de não ter ido ao jantar, já me disseram que foi um daqueles jantares como nos velhos tempos, com o pessoal todo, e em que eu te teria desafiado para uma tequilla! ;) Estava no Egipto, apenas acompanhada de uma amigA. Como tal, tenho experiências a partilhar neste domínio, mas terá que ficar para o próximo comentário porque estou a escrever do pc de uma colega minha que acabou de chegar!!! Besos

5/18/2010 3:39 da tarde  
Blogger Seco said...

Para não deixar suscitar dúvidas, refiro o grande ensinamento providenciado pelo grande professor Salan (um dos motoristas): A uma mulher um homem só pode dizer três palavras "Oui, non, degage" (sim, não, desaparece)...
...para verem o nível!
Pois Mia, tu também deves ter sentido algumas das dessas sensações!, contas?

5/19/2010 2:10 da tarde  
Blogger Patrícia said...

Eu, que partilhei a aventura Egípcia, em todos os sentidos, fico à espera que a Mia diga de sua justiça, para adicionar algo que tenha escapado. As minhas fontes argelinas dizem-me que há 20 anos Argel, especificamente, era dos pontos mais ocidentalizados do mundo árabe. O que confere com a postura dessas mesmas fontes. Também tenho conhecido alguns palestinianos que fariam cair por terra um monte de outros preconceitos - inclusivé um homem que leva no rosto fortes marcas de queimaduras resultantes de um ataque com granadas. Mas, segundo parece, a Argélia sofreu um retrocesso enorme, que agora poderá estar a reverter. De todos modos, de acordo com a nossa experiência, o "desaparece" é claramente substituído pela expressão "tirar foto":)

5/19/2010 9:01 da tarde  
Blogger Seco said...

Confirmo claramente o retrocesso!
Mais uma vez invocando o grande professor Salan, tudo é clarificado na guerra de línguas, o francês deixou de ser leccionado como obrigatório nas escolas... Estão-se a afastar do mundo, em vez de se integrar.
Quanto às fotos, estou bem a ver o filme, mas também com duas meninas tão bonitas como vocês, não é preciso ir tão longe para isso acontecer... Aqui é impensável sequer exibir uma câmara em público, uma das tais consultoras teve quase de ir para a esquadra por tirar uma foto a um edifício!

5/20/2010 9:38 da manhã  
Blogger Fumasssa said...

que se fodam!

5/22/2010 2:14 da manhã  

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